Presenças Invisíveis
Há um corpo que não chega,
mas o coração insiste em ouvir.
A distância é feita de luz,
mas também de calor guardado —
como se a palavra pudesse acariciar.
Te vejo em fragmentos:
um olhar pixelado,
uma respiração entrecortada,
e, ainda assim, sinto o corpo do afeto
atravessando a tela em silêncio.
Tua voz me toca onde a mão não alcança,
desenha no ar o contorno do encontro,
faz da ausência um abrigo,
da espera, um gesto de ternura.
O amor também acontece assim:
em travessia de dados,
em ondas invisíveis que levam o desejo
de um coração a outro,
de uma escuta a outra.
Porque há algo que não se perde —
mesmo quando o corpo se apaga.
Há vibrações que resistem,
há presenças que se inventam.
E é nesse intervalo entre o dito e o silêncio
que a vida ainda quer ser tocada.
Relato sobre a temática do TCC
O poema expressa a atmosfera sensível que envolve o tema de uma pesquisa. A prática remota, ao desarticular o espaço físico do encontro, coloca em evidência outras formas de presença — simbólicas, afetivas e sonoras.
A clínica psicanalítica, mesmo à distância, continua sendo um espaço de encontro entre corpos falantes. A ausência física não elimina a presença subjetiva; ela a transforma. O corpo, na psicanálise, nunca é apenas biológico — ele é pulsional, atravessado por desejo, linguagem e laço.
Quando o setting se faz pela tela, é o amor de transferência, essa força invisível que sustenta o vínculo analítico, que reinscreve a possibilidade do toque simbólico. A escuta torna-se ainda mais delicada: um gesto amoroso que acolhe hesitações, travamentos e silêncios como expressões do inconsciente.
Assim, o trabalho remoto não apaga o corpo — ele o reinscreve em outra linguagem. O amor, o desejo e o afeto atravessam cabos, telas e fones, reafirmando que o laço analítico não depende da presença física, mas da presença do desejo.
É nesse território — entre o visível e o invisível, entre o corpo e a palavra — que a clínica contemporânea se reinventa.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos....
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