O sinal

Na encruzilhada da vida,

um peso cai sobre os ombros:

dobro de salário,

vale e transporte,

mas um corte no tempo

que alimenta meus sonhos.

O estudo espera,

me chama, me molda,

mas o trabalho acena

com promessas de sobra.

E foi na estação,

entre passos apressados,

que o silêncio gritou:

um homem quis partir,

quis saltar da ponte invisível

que separa viver de desistir.

As sirenes chegaram,

as mãos o salvaram,

e eu vi no reflexo

um recado velado:

Nem tudo que brilha é caminho,

nem todo ganho é vitória.

Há escolhas que sufocam,

há decisões que nos roubam a memória

do que um dia desejamos ser.

O sinal não foi acaso,

foi chamado, foi alerta:

a vida é frágil,

e não cabe em números.

Talvez a resposta esteja

não no bolso pesado,

nem no tempo escasso,

mas no equilíbrio invisível

entre aquilo que nos sustenta

e aquilo que nos mantém vivos.

Na encruzilhada,

há sempre silêncio e tambor.

Cabe a mim escutar,

para não matar em mim

o que pulsa como amor.


Crônica do Sinal : Cheguei àquele ponto da vida em que a balança pesa não só pelo dinheiro, mas pelo tempo. Me chamaram para uma seleção: salário dobrado, VR, transporte, tudo certinho, contrato bonitinho. O tipo de coisa que qualquer um aceitaria sem pensar duas vezes. Só que eu pensei. Pensei porque a conta era outra: para ganhar mais, eu teria que abrir mão da pós-graduação, dos meus vinte horas semanais de estudo, da construção lenta e paciente daquilo que sei ser meu caminho.

No trabalho atual sigo como redutor de danos, na proposta que fui para seleção era pra minha profissão de Psicólogo, e essa outra proposta também me deixaria no mesmo lugar profissional, mas à custa de um deslocamento — não de cidade, mas de vida. Fiquei no dilema, meio travado, e pedi aos meus orixás que me mostrassem um sinal, algo que iluminasse a encruzilhada.

Foi então que, ao chegar na estação, vi um homem tentando se jogar. Um corpo suspenso entre o desespero e a queda. Por sorte, os bombeiros chegaram a tempo e o salvaram. Fiquei parado, olhando, sem saber se aquilo era aviso, metáfora ou acaso. Só sei que ali, diante da cena, senti que a vida sempre está por um fio, e que escolhas, às vezes, também são saltos: uns a gente se arrisca, outros a gente recua.

E eu, naquele instante, entendi que talvez não fosse sobre ganhar mais, mas sobre não perder de mim mesmo






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