Polígono Imperfeito
Sou um polígono torto,
feito de lados que aprenderam a ceder,
de ângulos que se curvaram ao toque,
e vértices que apontam — teimosos — pra lembrança tua.
Não nasci com régua, nem busco perfeição,
sou feito de pele, cicatriz e pulsação.
Cada traço meu carrega um desejo antigo:
ser abrigo, sem me perder no abrigo alheio.
Hoje, quero me amar com a mesma intensidade
com que um dia me lancei nos teus olhos.
Quero sentir o calor de mim,
antes de buscar o teu.
Quero me reconhecer no espelho,
com ternura,
com sede,
com verdade.
Mas se o amor voltar — e sei que volta —
que venha com o toque suave de quem aprendeu o tempo.
Que encontre em mim um corpo vivo,
um coração que pulsa sem pressa,
mas ainda se inflama,
porque amar, pra mim,
nunca foi um gesto frio.
E se eu te reencontrar,
que seja num abraço novo,
onde a saudade não pese,
mas dance.
Onde eu não queira caber,
mas partilhar espaço.
Eu volto, sim,
mas não como antes.
Volto com fogo manso,
com olhos que ainda brilham,
com mãos que sabem o valor do toque.
Volto por amor,
não por falta.
Sou um polígono imperfeito,
feito de desejo e ternura,
de recomeços que ardem
e não queimam.
E agora,
me amo —
e te amo —
sem me perder em ti.
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