Mesmo assim, eu fico

Eu preciso dizer isso com cuidado,

como quem fala de amor
sem ferir:
eu não sou a causa
do que te dói.

Não sou a origem
dos medos que te atravessam,
nem das histórias antigas
que voltam quando a gente tenta ficar.
Eu estou com você,
não contra você.

O que nos atravessa
não é falta de sentimento,
é excesso de desencontro.
A gente falha na fala,
no tempo,
no jeito de pedir.

Eu digo uma coisa,
você escuta outra.
Você sente demais,
eu me calo demais.
Nossa comunicação se perde
justamente onde o amor
quer se afirmar.

Eu assumo minhas faltas:
a coragem que ainda cresce,
a maturidade em construção,
os silêncios onde eu deveria explicar.
Mas não aceito ser o endereço
de dores que não começaram em mim.

Eu fui presença,
não ferida.
Fui tentativa,
não ruína.
Se algo se desorganizou,
foi porque já estava frágil
antes do toque.

Eu sigo aqui,
com amor e limite.
Com desejo e verdade.
E com a certeza serena
de que amar
não é carregar sozinho
o peso da história do outro.

O que existe entre nós
é real no corpo
e sincero no afeto.
O que falta
não é amor
é tradução.

Talvez, se a gente aprendesse
a se escutar melhor,
o medo não falasse tão alto.
Por agora,
fico com essa verdade dita em calma,
sem fechar a porta,
sem me perder de mim.

Porque, apesar de tudo,
eu fico.


Do seu escrevinhador preferido, 

o Príncipe 



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